Stock House

Monday, April 25, 2005

Voltar a sentir. (Parte II)

Não queria acreditar, não podia acreditar, durante anos pensei vaguear por esses canelhos da vida sozinho, entregue como sempre, somente a mim próprio, previ que iria continuar a vaguear por muito mais tempo, sempre da mesma maneira, a maneira descuidada, distante, fria, difusa em emoções, sem que nunca essas mesma emoções fossem as minhas. Vivi contos e romances de outros, acompanhava-os pois neles encontrava o que nos meus faltava, se é que alguma vez os cheguei mesmo a ter na íntegra. Comecei por pensar que de uma, mais uma como tantas brincadeiras se tratasse, longe da minha racionalidade e perto do meu coração algo maior que os meus raciocínios se aglomerava, como uma erva daninha atingindo tudo a sua passagem, com as suas ramificações apertando o cerco à minha capacidade de abstracção. Não consegui combater o que não podia ser travado, encontrei, contra todas as hipóteses outra vez aquela sensação, aquele aperto ofegante que parece estrangular com tanta força tudo o que sou, desde o ar que respiro, as fragrâncias que cheiro, aos momentos que vivo, às situações em que reino, apontou com punho firme, disparou com velocidade cruzeiro, atingiu o sitio proibido. Fracturou… o quê? Ainda não sei, mas vou descobrir…

Thursday, April 07, 2005

As Estrelas

Da minha janela, vislumbro o céu, negro, frio, desprovido de estrelas, pergunto-me, onde andaram essas tontas quando mais precisamos delas, procuro uma pitada de alento. Lembrei-me que talvez aquele brilho tão característico e mítico no céu nu e solitário me transmitisse o que na alma me falta. Mas nada, continuo entregue aos prantos reminiscentes nas minhas alusões filosóficas mais intrínsecas. Duvidas existenciais só maquinadas pelas cabeças eternamente amaldiçoadas com o dilema de divagar para lá do humanamente possível. Gostava de ser um dos demais, de ser um dos que vive apenas por impulsos e puro instinto, sem revogar nenhuma lei, da mais idiota à mais dogmática, talvez o tempo demorasse menos a passar, as insónias não se fariam sentir, a almofada, lençol e todo o mundo de sonho me acolheria de braços abertos, tudo seria recto e puro, a minha imaginação comandaria o planeta, a terra inverteria o seu movimento de translação, comandaria exércitos, viveria para os momentos de glória num fluir continuo e infinito do tempo. Mas não, Deus tinha que me por este fardo sob as costas, este fardo que tantos sentimos e que quase tantos gostaríamos que ele passa-se despercebido, sinto-me impotente por nada poder fazer, por não puder viver banalmente e despreocupado.
Mas eis que um som rasga o quarto, o telemóvel iluminou tudo por entre a escuridão, senti-o como se do mais suave tecido terrestre e extraterrestre se tratasse, a tocar a minha face e enxugar-me as lágrimas, como se fosse fragrância do jardim do Éden… Só aqui me apercebo que não estou sozinho neste batelão, só aqui me apercebo do sitio onde as almas gémeas, por uma mera ordem do acaso, se juntaram e me tomam como uma delas, só neste momento me apercebo que é um orgulho ter amigos assim, tê-los a meu lado, os Parrraxistas. Afinal sempre parece que encontrei as minhas tão aclamadas estrelas.