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Monday, September 26, 2005

A Necessidade

Fito o sujo e gasto alcatrão no qual assento o pé, retorço o tronco de um lado para o outro arrastando o esqueleto substancialmente pesado no presente dia para o exterior do carro, sorrindo forçosamente aceno com a cabeça e assim me despeço, palavras tão repetidas, quotidianas e usuais esbarram contra os meus ouvidos:
- Até amanhã, se precisares de alguma coisa já sabes…
“Precisar” Eis uma palavra que tão reduzidas vezes inserí no meu dicionário de vida… Acelerei o passo para a porta, numa batalha desigual com o meu pensamento na fé que me conseguiria olvidar do mesmo… Dois minutos passados, encontrei-me com o rosto no edredão de penas, os raios de sol iluminavam o quarto, a leve brisa marítima teimava em incomodar os finos cabelos adormecidos no leito da cama, levantei lentamente a cabeça e acompanhei o estender do meu braço até agarrar o cinzeiro, acendi um cigarro e depressa me prontifiquei a enfrentar o que me atormentava.
Que palavra… que nos leva a necessitar de algo? De alguém? De uma palavra sábia? De um olhar? De um sorriso? De uma ideia? De uma conclusão? De um raciocínio claro e conciso? De uma paz de espírito? Em milésimas de segundos sou atravessado por tudo aquilo que vivi, que construí, episódios passados, palavras ditas, lemas de vida, convicções… Por que temos em todo o instante da nossa vida de precisar sempre de qualquer coisa para não nos sentir-mos meros autómatos? Que necessito eu, que estado de alma e de espírito tenho de atingir para me desligar não sei. É neste instante que começa a verdadeira guerra, para que estarei guardado? Como será o dia de amanha? Terei eu a força necessária para enfrentar o que a vida me propõem? Sinceramente não sei… Mas tendo-me como uma pessoa forte e um fiel seguidor da doutrina “se soubesse o dia de amanha viver não faria sentido” relembro batalhas passadas e a maneira como foram por mim encaradas, e acredito vivamente que estou à altura da demanda.